Por João Felipe da Trindade
A misteriosa Ilha
de Manoel Gonçalves
Manoel Rodrigues de
Melo tinha um sonho de escrever um livro sobre Macau, comemorativo ao 1º
centenário desse município. Estava escrevendo, também, um livro sobre a família
Rodrigues Ferreira, pois descendia do português Manoel Rodrigues Ferreira, um
dos que deixaram a Ilha de Manoel Gonçalves para povoar Macau. Foi juntando
informações, mas não sei se deixou alguma coisa pronta desses dois desejos.
Mas, aqui e acolá vamos encontrando alguns registros deixados por ele.
Por um artigo na
revista Bando, escrito por Manoel Rodrigues, sabe-se que houve um saque por
parte dos ingleses, em 1818, na Ilha de Manoel Gonçalves. Nesse mesmo artigo
cita o individuo Alexandre José Pereira como Chefe do Degredo da Ilha,
revelando um lugar para cumprimento de pena. Há nesse mesmo documento trechos
de uma carta escrita pelo Capitão João Martins Ferreira para o Governador José
Ignácio Borges.
Não se sabe,
exatamente, quando a Ilha de Manoel Gonçalves surgiu. Tampouco se sabe o ano em
que ficou totalmente coberta. Se cogita, também, a possibilidade dela
ressurgir. Há dúvidas, até hoje, quanto à origem do seu nome. Uns falam que se
originou de um sesmeiro que a possuía, mas nunca apresentaram uma Sesmaria
concedida a Manoel Gonçalves. Outros dizem que Manoel Gonçalves era um piloto
que a descobriu. Como a ilha é de Manoel Gonçalves, poderia seu nome ter se
originado de alguém com esse nome que viveu por lá. Talvez algum documento,
ainda escondido, possa esclarecer mais adiante essa incógnita.
Acho que era um
ponto de muitas atividades, e que muitas pessoas que tinham interesses na Ilha
não viviam na mesma, mas sim, em algumas fazendas naquela região. Ali houve
muitos casamentos e batismos. Passaram por lá padres, freis, militares,
comerciantes, navegadores, degredados e outras pessoas em busca de
oportunidades. É, entretanto incrível como poucas informações nos chegaram até
hoje, por parte dos que moraram ou tinha algum negócio por lá. Nem os
descendentes, dos que viveram ou passaram por lá, trazem informações mais
precisas sobre a Ilha.
Encontramos o
seguinte trecho no livro “A indústria extrativa do Sal e a sua importância na
economia do Brasil” de Dioclécio Duarte
“Deixamos atrás a
ilha de Manoel Gonçalves, que as águas arrebataram, há um século, criando a
lenda da nova Atlântida nas terras do nordeste brasileiro. Para essa ilha, os
antigos piratas, reza a tradição, conduziam o ouro que roubavam dos barcos que
singravam o oceano.”
Manoel Rodrigues de
Melo escreveu, sobre uma disputa de terras, entre os compadres Francisco
Trajano Xavier da Cunha e o Capitão João Martins Ferreira, habitante da Ilha de
Manoel Gonçalves, na Revista da Academia Norte-riograndense de Letras, de
número 11, o que se segue:
“A Ilha de Manuel
Gonçalves já não existia, em 1836, como centro de comércio e porto de pescaria,
mas, tão somente como ponto de referência de um mundo velho que desaparecia em
face de um novo mundo que surgia
E a prova é que,
três anos depois, em 1839, realiza-se na povoação de Macau, em casa de aposentadoria
do Capitão André de Sousa Miranda, Juiz de Paz Suplente, uma audiência, em que
o Escrivão de Paz do Distrito de Guamaré, Antonio Carneiro da Costa, tomava por
termo uma Petição de conciliação em que eram partes como Autores os Capitães
Jacinto João da Ora, Francisco Trajano Xavier da Cunha, José Pedro da Silveira,
Tenente Coronel João Marques Carvalho, e como Réus o Capitão João Martins
Ferreira e sua mulher Dona Josefa Clara Lessa.”
A essa audiência
compareciam, como procurador de José Pedro da Silveira, Tomas Vieira de Melo, e
como procurador do Tenente Coronel João Marques de Carvalho da Silva Loureiro,
o Coronel Jerônimo Cabral Pereira de Macedo.
Este documento,
trás, a meu ver, muita luz à história de Macau, pois nele figuram Jacinto João
da Ora e João Martins Ferreira, dados como fundadores da nova povoação, além do
Coronel Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, que teria mais tarde, grande
atuação, na elevação à categoria de Vila e depois Cidade de Macau.
Além disso, as
terras em questão eram as sobras denominadas Canafístula, da data do
Curralinho, e Águas Novas, do mesmo município, ainda hoje conhecidas por estes
nomes.”
Para concluir,
transcrevo um registro de casamento na Ilha de Manoel Gonçalves, no ano de
1830, e um batismo em 1840. Lembro que Francisco Lopes Galvão casou na Ilha, em
1835, com Felipa Maria da Conceição.
“Aos dezoito dias
do mês de Julho de mil oitocentos e trinta pelas nove horas da manhan na Capela
de Nossa Senhora da Conceição da Ilha de Manoel Gonçalves, com minha presença e
das testemunhas abaixo nomiadas, se receberão por Esposos presentes, Nicolau
Vieira de Mello e Maria Francisca da Fonseca meus fregueses, Dispensados os
Proclamas pelo Ilustríssimo e Reverendissimo Senhor Doutor Provisor. O Esposo
de vinte e seis annos, filho legitimo dos fallecidos Vicente Correa de Mello e
Maria Dantas Faria, a Esposa de vinte e dous annos filha legitima de José
Antonio da Fonseca e Maria Magalona, naturaes e moradores neste Assu e sem
impedimento logo lhes dei as bênçãos matrimoniaes, sendo primeiramente
confessados e examinados na Doutrina Christan, presentes por testemunhas o
Capitão João Martins Ferreira e o Capitão Silvério Martins de Oliveira,
casados, todos deste Assu, e para constar fis este assento em que me assignei,
Joaquim José de Santa Anna, Parocho do Assu.”
O último registro
que encontrei, até agora, na Ilha de Manoel Gonçalves, foi o batismo de Maria,
filha de Francisco de Sousa e Maria Ferreira, na data de 23 de Novembro de
1843, pelo Coadjutor Francisco Urbano de Albuquerque Montenegro. Esse mesmo
Coadjutor esteve batizando no dia 25 em Alagamar, no dia 26 na Boca do Rio e em
1 de Dezembro, do mesmo ano, nas Oficinas.
FONTE
– HIPOTENUSA